sábado, 19 de dezembro de 2009

AL-GHAZZALI (*1)


 Entre Al-Ghazzali e Santo Agostinho, há uma ligação espeiritual. São ambos manifestações semelhante do mesmo princípio, apesar das divergências doutrinárias e sociais  que separam seus tempos e seus ambientes.
  Esse princípio é, no homem, uma inclinação que o eleva sucessivamente da matéria á razão e da razão á filosofia e a teologia. Abandonou Al-Ghazzali o mundo e as riquezas e a alta posição que nele possuía e entregou-se ao ascetismo, dedicando-se a pesquisar  aqueles fios delicados  que unem o mundo á religião, e a procurar o vaso misterioso onde se misturam os acontecimentos e as experiências com os sentimentos e sonhos.
  Assim havia procedido Agostinho cinco séculos antes dele. Quem lê suas confissões verifica que, para ele, o mundo e suas realizações são uma escada para consciências da existência suprema.

  Al-Ghazzali chegou, na minha opinião, mais perto da essência e do mistério das coisas do que Santo Agostinho.  Essa diferença talvez provenha da diferença entre as teorias científicas árabes e gregas que o primeiro herdou, e as pesquisas teológicas que ocupavam, os padres os padres  da igreja nos segundo e terceiro séculos após Cristo.
 Descobri também em Al-Ghazzali algo que faz  dele como um elo de ouro entre os antigos ascetas da ìndia e os teólogos dos séculos posteriores. Pois, nas inclinações de Al-Ghazzali, há algo das caraceterísticas dos antigos budistas, como há, nos escritos mais recentes Wiliam Blake e Spinoza, algo dos sentimentos de Al-Ghazzali.
   Goza Al-ghazzali  de alta consideração junto aos orientalistas e cientistas do Ocidente. Colocam-no entre os maiores filósofos do Oriente, ao lado de Avicena e Averóis. Os espeiritualistas do Ocidente consideram-no a expressão mais nobre e elevada dos valores do islã.
  Vi uma vez, numa igreja de Florença, na itália, a imagem de Al-Ghazzali esculpida entre as imagens dos filósofos, Santos e teólogos que a igreja considera como alicerces do templo na Idade Média. Achei fato bem curioso.
  Mais curiosos ainda talvez seja o fato de que os ocidentais sabem sobre Al-Ghazzali mais que nós. Traduzem-no e estudam suas teorias filosóficas e seus ensinamentos sufistas.
   Nós, por contraste, apesar de falarmos e escrevermos a sua língua, raramente o citamos ou estudamos. Porque nós só cuidamos de conchas, como se as conchas fossem o único produto que o oceano da vida empurra para as margens dos dias e das noites.







(*1) Al-Ghazzali  (1058-1111), mente essencialmente filosófica, passou 20 anos a procura da verdade até que escreveu então Al-Munkiz Min Ad-Dalal (Libertação do erro), cuja parte autobiográfica, na qual descreve o caminho de sua longa e dolorosa  procura, é ás vezes, comparada com As Confissões  de Santo Agostinho.

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