Não existirá entre os homens um jejuador magnânimo que queira romper seu jejum com meus frutos e aliviar-me do peso da minha fertilidade e abundância?
Minha alma está esmagada sob o peso do ouro e dos presentes. Não haverá entre os homens quem queira encher os bolsos?
Minha alma está transbordante com o vinho dos séculos. Não haverá sedentos que queiram aproximar os copos beber e saciar-se?
Eis um homem de pé na encruzilhada dos caminhos.
Estende aos tanseuntes mãos carregadas de jóias, rogando-lhes: " Tende pena de mim, tomai das minha jóias ."
Mas os transeuntes passam sem olhar.
Oh, pudesse ele ser um mendigo a estender aos homens uma mão trêmula e a recolhê-la vazia ! pudesse ser um cego paralítico a quem niguem presta atenção!
Eis um emir liberal, que armou suas tendas nos confim do deserto e das montanhas. cada noite acende o fogo da hospitalidade e manda seus servidores vigiarem as estradas e lhes trazerem um hóspede que ele possa homenagear. mas as estradas são avaras e não lhe enviam ninguém.
Oh, pudesse ele ser um mendicante menos prezado! pudesse ser um vagabundo errante que percorre o país com cajado na mão e um cesto pendurado no braço, e se reúne, à noite com outros vagabundos, com quem partilha o pão e a amizade !
Eis a filha do grande rei. que acordou do seu sono.
Deixouo leito,vestiu-se com brocado, pôs suas jóias e perfumes, e saiu a passear no jardim, á espera de seu bem amado.
Mas niguém ama a filha do rei na imensidão dasterras de seu pai.
Oh, pudesse ela ser filha de um pastor, que sai pela manhã com o rebanho do seu pai e volta no entardecer com a poeira das estradado nos pés e o perfume dos vinhedos nos vestidos, e que, quando cai a noite, e os vizinhos estão dormindo, esgueira-se secretamentepara onde a espera seu amado.
pudesse ser uma freira num covento a queimar seu coração em incenso que o vento espalha ou ao acender sua alma em velas que elevam sua luz ao éter ou a ajoelha-se e recitar oraçõesque fantasmas carregam até os depósitos onde o tempo guarda orações dos adoradores, lado a com a ansiedade dos enamorados e os pesadelos dos solitários!
Sim! Tudo seria melhor para ela do que ser a filha do grande rei, quando não há no reino de seu pai alguém que a ame.
Minha alma está sobrecarregada com seus frutos. Não haverá no mundo um faminto que queira colhê-los e comer e satisfazer-se?
Minha alma está transbordante com seu vinho. Não haverá um sedento que queira encher o copo e beber e saciar-se?
Pudesse eu ter sido uma árvore estéril! pois a dor da fertilidade. E a amargura do rico de quem aceita é pior que a de um pobre a quem nada se dá.
Pudesse ter sido eu um poço vazio no qual os transeuntes jogam pedras. Pois isto seria mais tolerável do que ser uma fonte límpida, pela qual os sequiosos passam sem beber.
Pudesse ser um caniço lançado ao chão. Isto seria melhor que ser uma harpa com cordas de prata numa casa cujo o dono tem os dedos cortados e cujos outros habitantes são surdos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário