Ó tempo de amar, a mocidade declinou,
E os anos desapareceram
Como uma sombra que se recolhe.
O passado apagou-se qual uma linha
Escrita pela ilusão sobre papel umedecido.
Nossos dias ficaram a mercê do sofrimento,
Num mundo avarento de alegrias.
O que amamos pereceu no desespero,
O que desejamos, enfadado, se afastou.
Tudo que possuimos se perdeu,
Como um sonho entre a noite e a manhã.
Ó tempo de amar, poderá a esperança
Na imortalidade da alma
Consolar na recordação do passado?
Poderá o sono apagar o vestigio dos beijos
Em lábios que se cansaram as facedas rosadas?
Ou o enfado fazer nos esquecer
A embriaguez da união
E as provocações da recusa?
Ou poderá a morte ensurdecer o ouvido
Que guarda os gemidos da tirania
E as melodias do silêncio?
Ou a sepultura cerrar os olhos Que contemplam os mistérios do além
E os segredos indevassáveis?
Quantas vezes bebemos em taças Que resplandeciam como luzes de fogo!
Quantas vezes sorvemos lábios
Que cingiam a beleza á doçura!
Quantas vezes declamamos versos,
Até fazer chegar às estrelas no firmamento
As vozes de nossas almas!
Todos aqueles dias se foram como as flores,
Ao cair da neve, no inverno,
E o que as mãos do tempo nos deram com generosidade,
Surrupiaram-no as mãos da desventura.
Se soubéssemos,
Nunca teríamos deixado passar uma noite
Entre o sono e o adormecimento.
Se soubéssemos, nunca teríamos deixado um olhar perder-se entre a inércia e o despertar.
Se soubéssemos, nunca teríamos deixado um instante
Do tempo de amar decorrer na separação.
Agora sabemos, mas só quando a alma já bradou:
"Levantai-vos e ide embora."
Agora ouvimos e recordamos,
Mas só depois que a Sepultura nos chamou,
Gritando: "Aproximai-vos".
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